Uma falha dessa impacta toda a Internet. Os cabos são interligados. As rotas de redundâncias foram acionadas, mas se tem consequências. A Europa, por exemplo, está tendo seu tráfego desviado para Los Angeles, nos Estados Unidos, para depois ir para a Ásia. A Internet funciona, mas fica sobrecarregada. O tráfego aqui na América do Sul foi impactado. Fortaleza, onde temos 17 cabos submarinos, está sendo muito mais demandada", explica o CTO da Angola Cables, Lucenildo Júnior.
Boa parte do tráfego internacional da Internet para a Ásia está sendo feito por cabos submarinos operados pela Angola Cables, via África do Sul, para chegar a Singapura. "Essa é uma rota muito mais longa que a tradicional. Isso significa que a latência no tráfego de dados aumenta. É como ir para um lugar pela rota mais longa. Vai chegar? Vai, mas vai se levar muito mais tempo", detalha o especialista.
Lucenildo Júnior adiciona que os dados dos Estados Unidos estão sendo encaminhados do ponto de interconexão de Miami para o de Fortaleza (via cabo Monet) e, de lá, enviados para o ponto de interconexão de Luanda (via cabo South Atlantic Cable System, o SACS). O mesmo acontece com os dados da Europa, que estão sendo enviados para Luanda, pela costa oeste da África (via West Africa Cable System, o WACS).
Indagado sobre o impacto da usina de dessalinização da água do mar na Praia do Futuro, em Fortaleza, projeto do Governo do Ceará, que receberá mais de R$ 520 milhões em investimentos, e que criou uma saia justa com as empresas de telecomunicações, o CTO da Angola Cables diz que 'em lugar nenhum do mundo existe projeto semelhante perto de cabos submarinos". Para Lucenildo Júnior, o risco para os cabos submarinos é evidente.
"A usina de dessalinização quebra todas as normas internacionais de proteção aos cabos submarinos. Temos de entender que ao contrário de uma fibra óptica- que é apenas luz - mas quando é rompida numa rodovia, causa um estrago grande à conectividade, os cabos submarinos além dos dados também transmitem energia, uma vez que debaixo dos oceanos há equipamentos que regeneram o sinal para retransmissão por conta da distância. Um possível rompimento em Fortaleza vai levar mais tempo ainda para corrigir. A equipe de restauração mais próxima fica em Curuçao, no Caribe. Se um dos 17 cabos forem rompidos, teremos uma grande possibilidade de apagão da internet no Brasil", pontua.
Segundo ainda o CTO da Angola Cables, a revisão do projeto feito pelo Governo do Ceará - que afastou a usina em 500 metros na praia do Futuro - tem impacto zero. "O mar tem suas peculiaridades, incidências de correntes e outras variáveis. De novo: em lugar nenhum do mundo se tem uma usina dessalinazadora junto a cabos submarinos. Na Austrália e em Israel, as usinas ficam bem longe dos cabos e de lugares com população", completa Lucenildo Junior.